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De roupas justas e curtas, salto alto, maquiagem forte, cílios postiços dourados e coroa na cabeça, Itha Rocha, 53 anos, deixou para trás as lágrimas do dia-a-dia e desfilou no sambódromo de São Paulo 16 vezes, incansável e sorrindo. Todas as vezes que passou pela arena do samba ela foi aplaudida com força pelo público.
Itha é a Rainha dos Garis há sete anos. Depois da apresentação de cada escola de samba do Grupo Especial, ela desfila à frente de 30 garis que atravessam o sambódromo varrendo confetes, serpentinas, papéis, fitas coloridas, adereços e enfeites jogados no chão.
"Antes os garis nem queriam vir varrer no Carnaval aqui do sambódromo. Criei o projeto para incentivar o trabalho deles", disse ela, em entrevista na madrugada deste domingo no seu apertado "camarim", enquanto terminava de vestir nova fantasia para a próxima entrada.
Entre um desfile e outro, Itha aparecia com roupas diferentes, homenageando as cores da escola de samba que havia acabado de passar.
"As escolas fornecem as roupas ou o material para uma figurinista fazer os modelos para nós. O resto - a coreografia e tudo mais - é improvisado", contou.
Este ano, ela inovou e trouxe uma princesa dos garis para acompanhá-la. Na falta do apoio das duas filhas que não gostam de Carnaval - "porque viraram religiosas depois de velhas" -, Itha diz que a estudante Adria Cordeiro, 20 anos, "é como se fosse uma sobrinha".
Mas quando não é Carnaval, a vida de Itha gira 180 graus. Seu ganha pão é acompanhar funerais, chorando por mortos alheios como carpideira, profissão que aprendeu com a avó na Bahia. Ela atende de dois a três velórios por mês, ganhando cerca de 300 reais por cada um.
"Transformo a energia negativa dos velórios em positiva. Sou a carpideira do novo milênio", afirma. "Mas eu gosto mesmo é do Carnaval. Gostoso é levantar a galera, ele vibram, pedem autógrafo... Teve até um que disse que iria voltar hoje só para me ver de novo", disse, fazendo graça para o namorado mais novo, sentado ao seu lado.
Toda prosa, ela conta a última idéia que teve para o Carnaval deste ano. "Fiz uma pesquisa de opinião com alguns mendigos da cidade para saber o que eles achavam do Carnaval".
Itha descobriu que eles gostavam mais dos carnavais antigos feitos na rua do que dos desfiles no sambódromo, porque podiam participar da festa também. "Pedi, então, para que eles recolhessem materiais para eu montar uma roupa símbolo da reciclagem", explicou ela, mostrando uma saia com peças prateadas e tampinhas de garrafas cor-de-laranja. "Assim, os mendigos estariam de alguma forma comigo aqui também."
Quem teve a chance de ver de perto os desfiles no sambódromo garante que a rainha fez bonito este ano. "Ela estava fantástica, é uma figura! Traz ainda mais alegria ao Carnaval", disse a dona de casa Teresinha Gomes, 41 anos.
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